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FECLESC 40 ANOS: NÓS TAMBÉM FAZEMOS PARTE DESSA HISTÓRIA

A História é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos (Cícero, político e orador romano – De Oratore).

Ao comemorarmos quarenta anos de vida produtiva da FACULDADE DE EDUCAÇÃO CIENCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL, aflige-nos uma preocupação suscitada por alguns trabalhos recentes de professores, estudantes e pessoas da comunidade que cuidam da sua história. Sob diferentes olhares, foram escritos alguns relatos e algumas avaliações. Há quem credite o surgimento da Unidade Acadêmica Quixadá às condições objetivas, aspectos circunstanciais ou a uma espontânea arrancada da expansão e da interiorização do ensino superior. O reconhecimento dos cursos decorreria de ingerências de caráter pessoal e afetivo junto ao Conselho Federal de Educação. A criação da Faculdade nos Colegiados Superiores, a elaboração e a aprovação do seu regimento seriam apenas gestos de magnanimidade da Administração Superior. Não negamos os apoios eventualmente costurados e obtidos por nós, pois fizeram parte de nossa estratégia. Queremos apenas que sejam registrados na sua verdadeira dimensão. O matreiro político mineiro José Maria Alckmin dizia que mais importante que o fato é a versão. E alguém, mais contundente, iria além ao afirmar que “nem Deus pode mudar o passado, mas, alguns historiadores mudam”. Em nome da justiça e do resgate da verdade lançamos aqui um repto aos que escrevem a história da FECLESC e que estavam ausentes na hora do sofrimento. Procurem seus personagens, seus atores, quase todos vivos e lúcidos. Entrevistem-nos. Pesquisem nos jornais de Fortaleza, nos arquivos bem organizados da FECLESC, observem as fotografias, leiam os ofícios, os informativos, os relatórios de atividades de 1987 a 1992 e os anais da PROEX. Não há como confundir fatos tão recentes e tão vivos na memória. Não há como negar a participação marcante dos pioneiros da comunidade como o prefeito Aziz Baquit, o deputado Everardo Silveira, o Sr. Joaquim Gomes da Silva, -Quinzinho – e tantos outros. Como minimizar a contribuição inspirada e criativa do professor Luis Oswaldo, o fundador da FECLESC? Como tentar apagar os rastros dos primeiros coordenadores voluntários Carlos Jacinto, Ivone Cordeiro e Vânia Facó? Como esquecer os pioneiros professores Miguel Leitão, José Maildo, Josete Castelo Branco, Socorro Lucena, Belisa Veloso, Glória Diógenes, Laudícia e William Guimarães que foi diretor pró-tempore e lá permaneceu durante 19 anos? Como obscurecer o trabalho da inesquecível e querida Verônica de Paula? Como esquecer o trabalho de tantos outros devotados colegas? Como esquecer a participação efetiva dos funcionários Dilia, Rosália, Carmen, Ana Lúcia, Maria, Cieda, Sr. Paiva, Sr. Pinheiro e os demais? Como ignorar a coragem das lideranças estudantis dos Centros Acadêmicos de História, Pedagogia e Ciências representadas por Miguel Peixoto, Francisca Nobre, Cristiano Góes, Evaneusa Vidal, Carlos Osmar, Ricardo Carneiro, Mary Sindeaux, João Álcimo, Chiquinho Saraiva, Mazé Almeida, Joana Adelaide, Calistamar,José Enídio, Rinaldo Roger e tantos outros? Participamos de muitas articulações. Discutimos exaustivamente todas as nossas questões em assembléias gerais com a comunidade do Sertão, porque essa era nossa prática. Fomos às ruas em passeata para sensibilizar a comunidade quixadaense que nunca nos faltou com o apoio. Por duas vezes ocupamos literalmente espaços do Itaperi com professores e estudantes da FECLESC reivindicando concurso para docentes e respeito à Instituição. Transformamos o CEPE e o CONSU na nossa tribuna privilegiada. Quando foi necessário e oportuno denunciamos o desinteresse, as perseguições e o boicote da Administração Superior da UECE e do governo do Estado através da grande imprensa onde fomos noticia por mais de 80 vezes no período (1986-1992). Na hora precisa negociamos com altivez e saímos vencedores. A nossa luta baniu as expectativas pessimistas, assegurou o reconhecimento dos cursos e a construção dos laboratórios (com recursos angariados na região e depois com a contribuição do governo do Estado), criou a Faculdade nos Órgãos Colegiados da UECE e lá provocou a aprovação do regimento que nós mesmos elaboramos e votamos em assembleia geral. Em quatro anos executamos mais atividades de extensão que todas as demais unidades da UECE. Em Quixadá fortalecemos a interiorização criando os Encontros das Faculdades do Interior e os Jogos Universitários da UECE… A FECLESC no seu tempo de implantação e consolidação jamais barganhou a sobrevivência usando como moeda de troca a subserviência ou os acordos espúrios. A superação de entraves na fase mais difícil não é decorrência da generosidade, do voluntarismo, da determinação pessoal de nenhuma iluminada autoridade. É consequência natural do comprometimento, da luta sem tréguas de um punhado de funcionários, de uns poucos professores e de muitos estudantes e membros da comunidade do Sertão Central, irmanados pelo sentimento de defesa de seu maior patrimônio, espaço de construção da cidadania. A luta de seus pioneiros, uma grande empreitada pedagógica, legado exemplar para a posteridade, garantiu-lhe a credibilidade, tornando-a imbatível e imortal. A despeito de versões aligeiradas, desinformadas e personalistas, da tentativa frustrada de manipulação de fatos e das interpretações equivocadas do processo de construção da FECLESC, a História e a memória da gente valorosa e digna do Sertão, certamente farão justiça aos seus verdadeiros protagonistas.

Gilberto Telmo Sidney Marques – Professor e ex-diretor da FECLESC