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Longevidade

JESS-PORTAL A NOTÍCIA – EDIÇÃO 3.271 –SINDESP.ORG.BR

Artigo – IPCA 50+: mensurando o custo de vida dos longevos – por Arnaldo Lima*

O Brasil está vivendo a revolução da longevidade. As pessoas estão vivendo cada vez mais, o que gera desafios para as contas públicas, empresas e, especialmente, trabalhadores que ainda não têm reserva financeira para se aposentar. Enquanto a população com menos de 50 anos cresceu 1,1% entre junho de 2022 e junho de 2012, a população com mais de 50 cresceu 35,1%, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE. No País, essa parcela da sociedade possui hábitos de consumo distintos, fazendo com que o impacto da inflação sobre suas despesas também seja diferenciado das demais faixas etárias. Foi buscando entender melhor essas necessidades e particularidades que o Instituto de Longevidade MAG criou uma maneira para analisar essa parcela da população de forma detalhada: o IPCA 50+, a “inflação dos longevos”. Ele se dá pelo cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para famílias chefiadas por pessoas com 50 anos ou mais de idade, apresentando a variação dos preços dos mesmos subitens do IPCA padrão, porém ponderados pelos pesos da cesta de consumo das famílias chefiadas pelos longevos. Algumas instituições já lançaram índices de preços específicos para acompanhar o impacto dos preços sobre as famílias compostas por pessoas idosas, em especial, com 60 anos ou mais, como é o caso do IPC-3i. O índice é divulgado pela FGV e se baseia no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Índices Gerais de Preços (IGP) da mesma instituição. O filtro em relação ao IPC dos IGP-M e IGP-DI são famílias com ao menos metade dos componentes com idade igual ou superior a 60 anos. A Fipe também começou a divulgar o IPC 60+, baseado no IPC, a partir de jul/21, também focado na população com idade superior a 60 anos.

Tabela 1: Indicadores Idosos – (Indicado)

Embora extremamente adequados aos seus propósitos, esses dois indicadores possuem duas restrições em relação ao objetivo do nosso estudo. Primeiro, buscamos avaliar o impacto dos preços das famílias com pessoas com 50 anos ou mais de idade, parcela que tem perfil de atividade no mercado de trabalho bastante diferente do corte de 60 anos ou mais. Além disso, nosso estudo busca avaliar o impacto das famílias chefiadas por pessoas com 50 anos ou mais de idade, e não das famílias compostas por pessoas com 50 anos ou mais de idade. Finalmente, o índice aqui proposto também procura um indicador que seja comparável ao IPCA/IBGE, o principal indicador de preços no país, que é, inclusive, utilizado como meta para a política monetária. O objetivo do IPCA é representar “proxy da inflação geral da economia, retratando a evolução ao longo do tempo do nível geral de preços dos bens e serviços consumidos pelas famílias no território nacional” (IPCA, 2020). Por isso, abrange 90% da população urbana do país, que tem rendimento monetário entre 1 e 40 salários-mínimos. Esses pesos do IPCA são calculados a partir da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), também divulgada pelo IBGE. Como se pode observar, os hábitos de consumo das famílias cujo chefe tem 50 anos ou mais de idade são diferentes dos hábitos da população considerada pelo IPCA e se concentram relativamente nos grupos “Saúde”, “Transportes”, “Comunicação” e “Artigos de residência”. Por outro lado, essa parcela da população despende relativamente menos em “Habitação”, “Educação”, “Alimentação” e “Despesas pessoais”.

Tabela 2: Peso dos Grupos do IPCA e IPCA 50+
(% da despesa total, em set/22)

A partir dessas informações (agregadas no nível item para cada área), calcula-se o IPCA 50+, tal como o IBGE calcula o IPCA. A série do IPCA 50+ pode ser divulgada mensalmente, após a divulgação da variação e pesos do IPCA por subitem e UF pelo IBGE, que costuma ocorrer na primeira semana do mês seguinte ao de referência. Como se pode observar, a inflação dos longevos (7,8%) foi superior ao índice geral (7,2%) no acumulado em 12 meses até set/22.

Tabela 3: IPCA e IPCA 50+ por Grupo
(% Acumulado em 12 meses em set/22)

O mesmo se pode notar a partir da desagregação regional: a diferença é pequena, mas nota-se que a variação dos preços para a cesta de consumo dos longevos foi maior em todas as unidades da federação, com exceção de Goiás.

Gráfico 1: IPCA e IPCA 50+ por Unidade da Federação
(% Acumulado em 12 meses em set/22)

Entretanto, desde jan/20, quando a série do IPCA passou a ser divulgada com os pesos da nova POF, pode-se notar que o IPCA 50+ esteve, em geral, um pouco abaixo do IPCA, tendência que foi revertida a partir de abril desse ano.

Gráfico 2: IPCA e IPCA 50+ (% acumulado em 12 meses)

Conclusão

Os benefícios da longevidade exigem mais cuidado com a saúde, mais preparação para o mercado de trabalho e, sobretudo, mais disciplina para formar uma reserva financeira por meio de previdência complementar, especialmente diante das constantes alterações da legislação previdenciária. Em termos de expectativa de sobrevida, os cinquentões de hoje são os quarentões de ontem, mas com regras previdenciárias menos benevolentes. Ou seja, teremos uma população cada vez mais longeva, o que exigirá mais recursos disponíveis para fazer frente aos gastos crescentes, especialmente em saúde.

Sabemos que os 50+ estão muito mais ativos no mercado de trabalho do que em décadas anteriores e seus familiares ainda são muito dependentes financeiramente desses chefes de família, exigindo mais poupança para o futuro e a utilização de um índice de inflação mais aderente para fins de planejamento previdenciário. Visando reforçar a chamada para os trabalhadores que desejam rever seus hábitos financeiros para se aposentar sem perda substancial da renda aos 65 anos de idade (no caso dos homens) e 62 anos (no caso das mulheres), o Instituto de Longevidade MAG criou o IPCA 50+, índice que permite uma análise mais detalhada – e cada vez mais necessária – dessa parcela da população.