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NOTÍCIAS DA ECONOMIA 1ª PARTE

CENÁRIO ATUAL E PESPECTIVAS MACROECONÔMICO BRASIL PARA 2025

O impacto da piora do cenário econômico nacional vista nas últimas semanas sobre a atividade deve começar a aparecer nos resultados do quarto trimestre e ficar mais evidente no início de 2025, com potencial de atrapalhar a demanda por crédito e a confiança de consumidor e empresários, A disparada recente do dólar, que vem batendo recordes históricos sucessivos acima de 6 reais, e a piora das condições financeiras ajudam a ampliar a pressão que já se via na inflação, e com isso o custo do crédito tende a subir, em um ambiente de famílias já endividadas. “Os mercados financeiros, o noticiário, tudo isso acaba entrando nessa conta de condições financeiras e confiança, com impacto negativo. Os efeitos vão se juntando e são cumulativos, até chegar efetivamente na ponta, no comércio e na produção”.

  • DÓLAR A R$ 6: disparada da moeda abre oportunidade para buscar retornos de até R$ 12 mil por mês. “Começaremos a perceber no quarto trimestre, mas essa confusão que a gente tem vivido ficaria mais clara nos indicadores econômicos do começo do ano”, completou ele, calculando expansão de 0,3% no quarto trimestre e de 2% em 2025. O mercado já vinha estressado com a demora do governo em apresentar medidas de cortes de gastos, uma vez que elas tinham sido prometidas para depois do segundo turno das eleições municipais, que aconteceu em 27 de outubro. Finalmente apresentado o corte de R$ 71,9 bilhõesem despesas em dois anos foi, em geral, bem recebido, mas o anúncio inesperado da isenção do Imposto de Renda para quem ganha acima de 5 mil reais por mês foi criticado. Isso acabou azedando os mercados de forma generalizada e desvalorizando ainda mais os ativos brasileiros, em meio a dúvidas persistentes sobre a sustentabilidade fiscal. Especialistas já tinham a expectativa de desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre e também em 2025, principalmente como efeito de um menor impulso fiscal, fator importante de estímulo ao consumo no ano. Ibovespa despenca 3% com fiscal e decisão de juros nos EUA; dólar tem novo recorde a R$ 6,26Brasil

Câmara conclui votação de projeto fiscal que trava gastos do governo em caso de déficit. O crescimento do PIB do Brasil desacelerou no terceiro trimestre a 0,9% em relação aos três meses anteriores, mas ainda mostrou uma economia aquecida mesmo diante da política monetária contracionista, com destaque para os investimentos e o consumo das famílias. “O impulso fiscal muito provavelmente tende a ser negativo no ano que vem, a despeito da discussão do pacote. Vemos uma barra muito alta para o governo adicionar mais estímulo”,

Para ele, a atividade econômica à frente ficará presa em uma conjunção de impulsos baixistas — fiscal e monetário negativos ao mesmo tempo — levando a expansão econômica a desacelerar a 1,8% em 2025. Soma-se a isso a pressão cambial que conecta-se com o PIB porque uma alta do dólar com economia aquecida significa que as empresas terão pressão de custos, mas principalmente terão espaço para repassar esse custo sem perder mercado. “O Banco Central já estava pressionado pelo mercado de trabalho aquecido, e agora o dólar é a grande novidade. O BC realiza sua última reunião de política monetária do ano na próxima semana, com a Selic atualmente em 11,25%. Cresceram recentemente as apostas de que o Comitê de Política Monetária pode voltar a apertar o passo e decidir por um aumento de 0,75 ponto percentual. “O câmbio desvalorizado pode contar um pouco o vazamento externo da demanda, mas tem a questão de inflação, que pode corroer a renda das famílias e tem impacto direto sobre o consumo, forças meio conflitantes que deixam incerto o impacto para ano que vem.

AVALIAÇÃO SOBRE AS CONTAS PÚBLICAS

Nós vemos a evolução das contas públicas e elas em si com preocupação, sendo que essa preocupação está mais atrelada a sua composição e administração do que a existência de um déficit. Eu coloco dessa forma, pois o Estado brasileiro ainda precisa ser grande, já que nós somos um país em desenvolvimento onde a sua influência acaba sendo um divisor de águas para alguns setores da economia. Esse Estado grande deveria ter uma alocação de recursos mais eficiente, mas hoje, quando olhamos o orçamento, nós vemos que a imensa maioria dos gastos e das despesas são recorrentes, ou seja, não se está usando o capital do orçamento para o incentivo de investimentos produtivos. O Estado está atuando, essencialmente, na gestão da Previdência, tanto do INSS quanto do setor público, e nas despesas de funcionalismo, ou seja, ele está atuando na remediação, e não na construção de um futuro. O Brasil deveria ter uma alocação maior de recursos para educação e saúde preventiva, pois quando se tem esses dois componentes melhor estruturados, a economia será movida, ao longo do tempo, para um patamar mais elevado em termos de geração de receita e empreendedorismo. A Embrapa e o Porto Digital do Recife são dois exemplos disso. O gasto existente é muito ineficiente, sendo que essa baixa eficiência acaba alimentando mais ineficiência no futuro, o que vai gerar um crescimento do PIB menos persistente ao longo do tempo. Com isso, a base de receita vai diminuindo, enquanto a base de despesa vai crescendo acima da inflação. Em algum momento, essa conta vai ficar tão distante para fechar que vai haver um problema de financiamento.

O que temos em 2024 é um gasto público direcionado para pilares que são importantes, mas que não geram eficiência para a economia, e uma arrecadação que não é persistente a longo prazo. Por mais que hoje estejamos bem, a trajetória não é positiva.

AS AÇÕES DO GOVERNO PARA AUMENTAR A RECEITA ESTÃO SURTINDO EFEITO?

No curto prazo, sim, mas as ações do governo não são sustentáveis, já que elas estão, efetivamente, com uma visão de suprir necessidades de curto prazo. Isso porque o aumento de impostos, ainda que pontual de alguns setores produtivos, traz uma ineficiência, já que tira um capital que poderia ser investido a longo prazo.  O setor privado tem que pagar impostos, não se discute isso, mas a carga tributária tem que estar em um ponto de TRADEOFF onde o imposto seja pago, mas haja excesso de recursos para serem reinvestidos na atividade produtiva. O problema é que esse ponto foi ultrapassado. Desta forma, resolve-se um problema para este ano, mas não se resolve a situação para 2026. Isso porque hoje se arrecada o suficiente para pagar as contas, só que para pagá-las daqui a dois anos será necessário aumentar a base de tributação, o que pode ser feito de duas formas: ou os pagadores de impostos aumentam a sua geração de resultado ou se aumenta as alíquotas. O que se está fazendo hoje não é convidativo e não cria um movimento para o aumento de geração de resultados, pois o que está sendo feito é mexer com alíquotas. Vai chegar uma hora em que essa conta não vai fechar. Uma inflação um pouco mais forte é benéfica para a arrecadação, pois quando se aumenta os preços, se aumenta o resultado da economia, o que aumenta a base de tributação e permite uma arrecadação maior, mas isso tira a capacidade de investimento e também de consumo. Como disse, essa conta só se resolve no curto prazo.  As despesas públicas estão tendo um comportamento coerente sob a gestão do atual governo?

Por um bom tempo, nós tivemos essa coerência, mas ela foi sendo perdida. No dia 30 de julho, nós tivemos um grande evento que foi a revisão do plano de contas e do orçamento através do qual vieram os cortes. Esse freio de arrumação foi feito para devolver a coerência que vinha sendo perdida. O problema é que quando recebemos o relatório do quarto bimestre, nós tomamos um grande choque, pois a coerência que houve por um prazo de tempo, foi deixada de lado. Por exemplo, quando há uma liberação de R$ 3,8 bilhões contra um CONTIGENCIAMENTO de R$ 2,1 bilhões, isso mostra que o governo se permitiu gastar mais.  Como acontece em países desenvolvidos, um gestor público tem que injetar dinheiro na economia, no âmbito assistencial, quando acontece um desastre ambiental, como queimadas, secas ou o ocorrido no Rio Grande do Sul, mas justamente no momento em que isso acontece, quando as contas estão fragilizadas, nós vemos um gasto adicional na Previdência, que é algo que não pode ser controlado ou que possa ser cortado. A partir do momento em que se vê um gasto maior do que era projetado, se o governo quisesse manter a coerência, ele não liberaria R$ 3,8 bilhões em recursos. Esse contingenciamento não poderia ter sido revertido. Ao fim e ao cabo, o governo vinha mais ou menos coerente até um par de semanas atrás, mas essa coerência foi quebrada com essa atitude. Esse é um ponto de alerta muito grande. Mais uma vez: a maior atenção sobre o orçamento estava muito mais voltada para essa coerência do que para o número, já que o déficit zero não era crível. Na sua avaliação, o Arcabouço Fiscal está sendo efetivo? Faço essa pergunta, pois R$ 40,4 bilhões ficaram de fora da meta do resultado primário?  Desde que o Arcabouço Fiscal foi lançado, eu o interpretei como uma grande carta de intenção, pois ele não é uma estrutura sustentável a longo prazo. A partir do momento em que você faz uma regra através da qual se permite gastar mais, caso haja determinado nível de crescimento, você tem, por definição, um conflito de interesse. Isso porque o governo se permite gastar mais, mas não se compromete com os tipos de gastos e com os vetores de crescimento. Como isso será medido e quantificado por uma ótica de Arcabouço, colocou-se uma regra genérica que dá uma grande margem de manobra para a própria necessidade financeira do governo. Como disse, o Arcabouço, como carta de intenção, é fantástico, mas o seu enforcamento é muito baixo, já que esse é um alvo móvel que pode ser movido para um patamar do interesse do governo. Eu não estou falando isso numa perspectiva maquiavélica, no sentido de manobrar para defender um grupo ou uma ideia, mas por uma ótica de gestão efetiva. O problema dessa meta móvel é que ela gera um incentivo de curto prazo para ser cumprida, mas esse incentivo não garante uma consistência na trajetória de longo prazo. Naturalmente, esses números são altamente discutíveis e já existem algumas projeções que apontam que esse mecanismo de meta pode nos levar a uma relação Dívida/PIB próxima a 90%, o que, para um país como o nosso, é muito alta por uma perspectiva de percepção de riqueza. O Arcabouço não trouxe um mecanismo de freios e contrapesos necessário para uma gestão macroeconômica prudencial.

Fontes: revistas/jornais econômicos

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