PANTEOLOGIA
REINO UNIDO DEVOLVE FÓSSEIS DE 100 MILHÕES DE ANOS LEVADOS ILEGALMENTE DO BRASIL
Um total de 25 fósseis de insetos levados ilegalmente da região da Chapada do Araripe, no Ceará, para o Reino Unido foi repatriado e transferido para o Brasil, no mês de março, transportado de forma clandestina. Esse material, data de cerca de 100 milhões de anos e foi anunciado ilegalmente em um site especializado em venda de rochas e fósseis.
Conforme pesquisadores e cientistas essas unidades paleontológicas estão avaliados em quase 600 mil euros (cerca de R$ 4 milhões, pelo câmbio atual) – dada a raridade, o interesse científico e a qualidade de preservação. A legislação brasileira proíbe a exploração e venda de fósseis brasileiros, vedando também a extração, comercialização, transporte e exportação desse tipo de material sem a prévia e expressa autorização do governo brasileiro. As peças chegaram a Brasília de acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e o destino dos fósseis será o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri. A instituição é vinculada à Universidade Regional do cariri. O diretor do Museu, Professor ALLYSSON PINHEIRO afirma que após a conclusão de estudos, o objetivo é que os fósseis fiquem expostos no museu. Geopark Araripe, no Cariri, atrai visitantes e preserva capítulos importantes da evolução natural da Terra No laudo técnico, foi possível identificar a presença da pedra cariri nos fósseis. O material é típico da Formação Crato, localizada nos municípios de Santana do Cariri e Nova Olinda, no Ceará. Ainda na análise das peças, foi identificado que elas passaram por um processo de preparação para que os fósseis fossem vendidos por valores mais altos no mercado de colecionadores. As autoridades britânicas foram contatadas pela Secretaria de Cooperação Internacional do MPF, buscando auxílio para localizar o responsável pela venda ilegal dos fósseis, obter informações sobre a origem do material e providenciar o retorno dele ao Brasil.
Segundo o MPF, o órgão continuará a investigação para tentar identificar os responsáveis por extrair ilegalmente o patrimônio público. Mais de mil fósseis de animais e plantas da Chapada do Araripe e levados para a Europa já foram repatriadas pelo Ministério Público nos últimos anos. As peças encontradas na região foram retiradas clandestinamente e enviadas para coleções privadas e museus de outros países, muitas vezes sem o registro científico necessário. Outros casos ainda tramitam na Justiça da França, como um esqueleto quase completo de PTEROSSAURO da espécie Anhanguera. Mais 45 fósseis de tartarugas marinhas, peixes, répteis, insetos e plantas estão nesta mesma situação.
FÓSSIL REPATRIADO AJUDA A DESVENDAR A ESPÉCIE
O estudo recém-publicado é também o primeiro a utilizar material fóssil repatriado da França, parte de uma carga ilegal de quase 1.000 fósseis brasileiros que foi apreendida em um porto francês e, graças a uma ação internacional conjunta da Universidade Regional do Cariri (URCA), Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, GEOPARK ARARIPE, Governo do Estado do Ceará, Ministério Público e Ministério das Relações Exteriores. Com base nesse material — extremamente bem preservado — e no holótipo resgatado das cinzas, os cientistas revisaram completamente a descrição da espécie, resolvendo dúvidas que perduravam desde os anos 1990.
BEURLENIA ARARIPENSIS, encontrado na Formação Crato da Bacia do Araripe, viveu há cerca de 113 milhões de anos num ambiente lacustre tropical. Agora, com as novas análises, passa a ocupar um lugar mais definido na complexa árvore da vida dos camarões “É como se esse fóssil tivesse renascido. Uma espécie que foi descrita uma vez, quase desapareceu na tragédia, e agora retorna com uma nova identidade”, diz Daniel Lima, paleontólogo e um dos autores do estudo. A pesquisa, publicada na revista internacional PALZ, é fruto da colaboração entre cientistas do Brasil (Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri e Museu Nacional da Universidade Federal de Rio de Janeiro) e do Reino Unido (Universidade de Oxford), e fortalece o papel da paleontologia brasileira na proteção do seu patrimônio e na geração de conhecimento científico de ponta. Mais que ciência, essa história é símbolo de resistência.
FÓSSIL BRASILEIRO PERDIDO EM TRAGÉDIA DO MUSEU NACIONAL É REENCONTRADO
Em 2018, o Brasil e o mundo assistiram, estarrecidos, ao incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro.
Milhares de peças históricas foram consumidas pelas chamas, entre elas, acreditava-se, um importante fóssil de camarão pré-histórico — BEURLENIA ARARIPENSIS. Mas a ciência adora um bom enredo de reviravolta.
Entre 2018 e 2022, um meticuloso trabalho de recuperação da coleção dos escombros
Parte da equipe de brasileiros e chineses que participaram da descrição da espécie, em visita ao INSTITUTE OF VERTEBRATE PALEONTOLOGY AND PALEOANTHROPOLOGY (IVPP). Pesquisadores chineses e brasileiros descreveram recentemente um esqueleto fossilizado quase completo de um PTEROSSAURO. A espécie então era desconhecida no condado de JIANCHANG, na província de LIAONING, no nordeste da China. O estudo, realizado por pesquisadores do INSTITUTE OF VERTEBRATE PALEONTOLOGY AND PALEOANTHROPOLOGY (IVPP), da Academia Chinesa de Ciências, da Universidade de JILIN, da Universidade Regional do Cariri (URCA), da Universidade Federal do Rio de Janeiro e outras instituições, foi recentemente publicado no periódico ANNALS OF THE BRAZILIAN ACADEMY OF SCIENCE.
O fóssil, datado de aproximadamente 160 milhões de anos atrás (período Jurássico Superior), foi batizado de DARWINOPTERUS CAMPOSI SP. NOV. O professor adjunto da URCA, RENAN BANTIM, VICE-COORDENADOR do Laboratório de Paleontologia da URCA e curador do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens participou da pesquisa representando a URCA. Ele destacou que a descoberta traz novos dados sobre a diversidade morfológica e evolutiva dos PTEROSSAUROS. Segundo BANTIM, o nome da espécie homenageia DIOGENES de Almeida Campos, renomado GEOPALEONTÓLOGO BRASILEIRO que fez contribuições significativas para a pesquisa paleontológica colaborativa entre China e Brasil, iniciando uma parceria que existe há mais de 20 anos. Esta nova espécie pertence à família WUKONGOPTERIDAE, um importante CLADO DE PTEROSSAUROS DA BIOTA YANLIAO, no nordeste da China. A nova espécie se diferencia de outros membros da WUKONGOPTERIDAE por ter características únicas como a margem dorsal reta da CRISTA PREMAXILAR, sem projeção dorsal extensa; Superfície lateral lisa; Arranjo dentário com 18 dentes em cada lado da mandíbula e 14 na maxila e PRÉ-maxila; e a quarta falange do dedo da asa é mais curta que a primeira. Conforme os pesquisadores, a descoberta amplia a diversidade dos PTEROSSAUROS WUKONGOPTERIDAE e fornece novas perspectivas sobre a evolução desse grupo de PTEROSSAUROS. A China se tornou um polo global de pesquisa em PTEROSSAUROS, com descobertas que avançaram o estudo desses répteis voadores extintos.
Na última década, diversos novos sítios FOSSILÍFEROS foram relatados em LIAONING, levando à identificação de várias espécies desconhecidas.Entre os achados mais notáveis estão espécimes associados à BIOTA YANLIAO, que, embora distribuídos em regiões semelhantes às da BIOTA JEHOL, são mais antigos, datando do Jurássico Médio ao Superior. A família WUKONGOPTERIDAE se destaca como um grupo proeminente dentro dessa biota. A colaboração entre paleontólogos chineses e brasileiros em fósseis da Biota YANLIAO remonta a Wukongopteridae2009, quando nomearam juntos um PTEROSSAURO. Desde então, três gêneros e cinco espécies foram identificados. Com essa nova descoberta, o número sobe para seis espécies.