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Tamanduás E Outros Bichos (A Propósito Do Dia Do Professor)

FRANCISCO HUGO BARROSO MARTINS JUNIOR especialista em literatura greco-romana, línguas estrangeiras, escritor, redator, colaborador, divulgador do JESS jornal-eletrônico e do site SINDESP

 

Hoje, sentei-me ao computador às vinte e três horas de uma noite calorenta. Meus dedos não correram céleres pelo teclado tais os galgos de Diana. Pelo contrário, mantinham-se inertes como se não recebessem do cérebro nenhum comando. Em outros dias, quando minha indignação não atinge as raias do insuportável, maltratada que anda pela secular estupidez humana, deslizam meus dedos, ufanos, a celebrar a simplicidade do viver seja pela conversa gratuita com um amigo, seja pela leitura de um bom livro ou mesmo pelo lirismo que nos desperta a convivência com uma mulher amada. Não; agora meus dedos teimam em nada registrar. As ideias revoluteiam, a forma fria permanece indiferente às minhas tentativas em escrever algo, e nada, absolutamente nada é parido, malgrado encontrar-me grávido da “palavramundo”. Remexo meus cadinhos mentais, revolvo o cotidiano, só então encontro uma explicação para tudo isso: DIA 15 DE OUTUBRO, RECEBI ABRAÇOS DE TAMANDUÁS TRAIÇOEIROS E PERIGOSOS.

 

Primeiro, eles dão o fel; depois, tentam mitigar o amargor com um discurso a um tempo adocicado e cretino. Primeiro, eles nos agadanham com suas garras aduncas, fincadas numa legalidade discutível; depois, tentam nos curar a alma ulcerada, com palavrório louvaminheiro. Primeiro, eles se nos apresentam como homens justos e bem intencionados; depois, travestidos em pele de cordeiro, revelam sua face hipócrita de fariseu bíblico. Primeiro, eles nos vilipendiam, pois não enxergam o valor que assume nosso trabalho por um mundo melhor e mais fraterno; depois, nos jogam flores que encobrem urzes e espinhos. Enfim, neles se imbricam o primeiro e o depois. Naquele, a verdade incontestável e tisnada de “boas” e mentirosas intenções; neste, a mendacidade dissimulada dos sicários sem nenhum escrúpulo.    Eles são eles, sempre inconfundíveis. Eles são aqueles que não vislumbram